Justiça Divina e Justiça dos Homens

Justiça Divina e Justiça dos Homens.

Sejam bem-vindos! Somos um blog de divulgação da Doutrina Espírita em assuntos que guardam relação com o Direito e a Justiça. Nosso principal objetivo é comentar temas jurídicos da atualidade, sempre à luz do Espiritismo. Naveguem com o Mestre Jesus!

A lei de Deus é perfeita e invariável. As leis dos homens são imperfeitas e evoluem ao longo dos tempos, sendo apropriadas aos costumes e ao caráter dos povos (interpretação do blog sobre o Capítulo I, itens 1 e 2 de "O Evangelho segundo o Espiritismo)



sábado, 16 de março de 2013

O desencarne coletivo em Santa Maria perante as Leis Divinas e as leis humanas


Entre as inúmeras manifestações de amigos espíritas sobre o incêndio na Boate Kiss em Santa Maria/RS, culminando com mais um triste episódio de desencarne coletivo, desta feita de mais de duas centenas de jovens, duas mensagens que reputamos como extremamente equilibradas e coerentes foram veiculadas por Dora Incontri e Richard Simonetti (ambas seguem escritas no final deste post).
Em síntese, conclamam-nos à fé raciocinada, à oração e à caridade com os familiares das vitimas, alertando-nos para o fato de que casos da espécie não são tão simples e não basta que sejam enquadrados como resgate coletivo.

Toda e qualquer tragédia ocorre por força da lei de ação e reação, mas nem sempre a ação ocasionadora da reação tem causa em encarnação passada, nem é sempre também que as vítimas fazem parte de um resgate coletivo, a exemplo daquele que nos noticiou Humberto de Campos sobre o incêndio do circo de Niterói, no início da segunda metade do século passado.
Muitas vezes a lei de causa e efeito é desencadeada na própria encarnação presente, em decorrência de atos irresponsáveis, o que não é difícil de se pensar que tenha ocorrido com a infeliz decisão de particulares e autoridades públicas quanto ao funcionamento de um prédio, para aglomeração de mais de mil pessoas, sem estrutura de combate a incêndio e saídas de emergência, colocando a vida de centenas de pessoas em risco e, nesse caso específico, tendo culminado com o desencarne coletivo sob enfoque. A própria sociedade brasileira é conivente e despreocupada com a segurança, pois frequenta esses locais totalmente desprovidos de estrutura e segurança sem pensar nas consequências para a própria vida e integridade física.

Dessa forma, é até temerário se atribuir a causa do ocorrido a um desencarne coletivo, sem que se tenham premissas seguras para se fazer essa afirmação. Provações e resgates coletivos existem e isso é ponto pacífico na Doutrina Espírita e não serão incomuns na transição do Mundo para a Nova Era de Regeneração. Mas isso não autoriza a se concluir que qualquer tragédia coletiva assim se explica.
No caso específico de Santa Maria, o que pensar dos considerados suspeitos de terem responsabilidade mais direta pelo acidente que, segundo a imprensa, seriam aqueles que adquiririram um artefato pirotécnico impróprio para locais fechados, os empreendedores da boate e as autoridades públicas? Será que dá para crer que a Sabedoria Divina se valeria dessa imperfeição, em tese, de alguns Espíritos, para propiciar o resgate coletivo de outros? Se assim fosse, será que não entraríamos em um círculo vicioso, uma vez que, para resgatar o débito do passado de alguns, outras pessoas teriam que se endividar perante as leis de Deus?

O propósito desse blog, como todos os nossos leitores sabem, é discutir assuntos espíritas sob a óptica jurídica e vice-versa. E, sendo assim, a que parece, a triste e dolorosa temática em questão parece se enquadrar perfeitamente em nossa pauta. Isso na medida em que o sofrimento das vítimas precocemente desencarnadas, das suas famílias, dos sobreviventes que sofrem as consequências físicas e psicológicas do acidente, dos sobreviventes que sofrem as consequências físicas e psicológicas do acidente, da sociedade brasileira em geral, sempre muito solidária nesses momentos, e das próprias organizações e pessoas suspeitas de terem responsabilidade pela tragédia, fazem nossas atenções se voltarem para aspectos tais como: as consequências danosas das leis humanas imperfeitas, no caso em matéria de segurança, a cultura de falta de compromisso da sociedade em exigir o cumprimento das leis que são para o seu bem e segurança, e a omissão das autoridades públicas de desempenharem o papel de fiscalizar o cumprimento dessas leis e adotarem as medidas para impedir que sejam burladas em detrimento da segurança das pessoas.
Deus nos dotou de livre-arbítrio e, seres imperfeitos que somos, cometemos erros graves, cujas consequências não se restringem a desencadear os efeitos da lei de causa e efeito, mas também provocam sofrimentos, angústias, remorsos e outros sentimentos. Mas ao contrário da nossa imperfeição, as Leis Divinas são tão perfeitas a ponto de propiciarem que os erros da humanidade sirvam de ensinamento para o aperfeiçoamento das leis humanas e das condutas dos indivíduos, ainda que seja um remédio amargo para nossas imperfeições.
 
 


Reflexões espíritas sobre a Tragédia de Santa Maria
 
A tragédia de Santa Maria me leva a algumas reflexões que considero importantes para o movimento espírita.

Recentemente participei de uma banca de doutorado na Universidade Metodista, em que o pesquisador José Carlos Rodrigues, examinou em ampla investigação de campo quais os principais motivos de “conversão”, eu diria, “migração” para o espiritismo, no Brasil. Ganhou disparado a “resposta racional” que a doutrina oferece para os problemas existenciais.
De fato, essa é grande novidade do espiritismo no domínio da espiritualidade: introduzir um parâmetro de racionalidade e distanciar-se dos mistérios insondáveis, que as religiões sempre mantiveram intactos e impenetráveis, sobretudo o mistério da morte.
Entretanto, essa racionalidade, que era realmente a proposta de Kardec, tem sido barateada em nosso meio, como tudo o mais, para tornar-se uma cartilha de respostinhas simples, fechadas e dogmáticas, que os adeptos retiram das mangas sempre que necessário, de maneira triunfante e apressada, muitas vezes, sem respeito pela dor do próximo e sem respeito pelas convicções do outro. Explico-me.
Por exemplo: existe na Filosofia espírita uma leitura de mundo de “causa e efeito”, que traduziram como “lei do karma”, conceito que vem do hinduísmo. Essa ideia é de que nossas ações presentes geram resultados, que colheremos mais adiante ou que nossas dores presentes podem ser explicadas à luz de nossas ações passadas. Mas há muitas variáveis nesse processo: por exemplo, estamos sempre agindo e portanto, sempre temos o poder de modificar efeitos do passado; as dores nem sempre são efeitos do passado, mas sempre são motivos de aprendizado. O sofrimento no mundo resulta das mais variadas causas: má organização social, egoísmo humano, imprevidência… Estamos num mundo de precário grau evolutivo, onde a dor é nossa mestra, companheira e o que muitas vezes entendemos como “punição” é aprendizado de evolução.
O assunto é complexo e pretendo escrever mais profundamente sobre isso. Aqui, apenas gostaria de afirmar que nós espíritas, temos sim algumas respostas racionais, mas elas são genéricas e não podem servir como camisas de força para toda a realidade. Que respostas baseadas em evidências e pesquisas temos, por exemplo, para essas famílias enlutadas com a tragédia de Santa Maria?
• que a morte não existe e que esses jovens continuam a viver e que poderão mais dia, menos dia, dar notícias de suas condições;
• que a morte traumática deixa marcas para quem fica e para quem foi e que todos precisam de amparo e oração;
• que o sofrimento deve ter algum significado existencial, que cada um precisa descobrir e transformá-lo em motivo de ascensão…
• que a fé, o contato com a Espiritualidade, seja ela qual for, dá forças ao indivíduo, para superar um trauma dessa magnitude.
 Não podemos afirmar por que esses jovens morreram. Não devemos oferecer uma explicação pronta, acabada, porque não temos esses dados. Os espíritas devem se conformar com essa impotência momentânea: não alcançamos todas as variáveis de um fato como esse, para podermos oferecer uma explicação definitiva. Havia processos da lei de causa e efeito? Provavelmente sim. Houve falha humana, na segurança? Certamente sim. Qual o significado que essa tragédia terá? Cada pai, cada mãe, cada familiar, cada pessoa envolvida deverá achar o seu significado. Alguns talvez terão notícias de algum evento passado que terá desembocado nesse drama; outros extrairão dessa dor, um motivo de luta para mais segurança em locais de lazer; outros acharão novos valores e farão de seu sofrimento uma bandeira para ajudar outros que estejam no mesmo sofrimento e assim por diante.
Oremos por essas pessoas, ofereçamos nossas melhores vibrações para os que foram e para os que ficaram e ainda para os que se fizeram de alguma forma responsáveis por esse evento trágico. Mas tenhamos delicadeza ao tratar da dor do próximo! Não ofereçamos respostas fechadas, apressadas, categóricas, deterministas. Ofereçamos amor, respeito e àqueles que quiserem, um estudo aberto e não dogmático, da filosofia espírita.
Fonte: http://doraincontri.com/2013/01/28/reflexoes-espiritas-sobre-a-tragedia-de-santa-maria/


Morte na Boate
 
 
Por Richard Simonetti
 
Tragédias como a de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que vitimou 231 pessoas sempre suscitam a dúvida crucial: Maktub? Estava escrito?
A meu ver está escrito apenas que morreremos um dia, mas sem definição do dia e hora, já que estes pertencem às contingências humanas, subordinadas ao livre-arbítrio. Raros vivem integralmente o tempo concedido por Deus para as experiências humanas. Multidões retornam antes do tempo à espiritualidade por cuidarem mal do corpo, por se comprometerem no vício, no desregramento, na indisciplina, no crime…
Há quem diga que débitos cármicos, nascidos de desvios cometidos em passadas existência teriam originado uma espécie de resgate coletivo na funesta madrugada.
Além de logisticamente complicado juntar pessoas que queimam e sufocam seus semelhantes para morte igual, tal resgate lembra a pena de talião defendida por Moisés, o olho por olho, à distância do amor que cobre a multidão dos pecados, ensinado por Jesus.
Há sempre a ideia supostamente consoladora, de que tudo vem de Deus. Assim pensando, seria, porventura, mais razoável imaginar que Deus estimula a negligência, a indisciplina, os vícios, os assassinatos, as bebedeiras, a agressividade, a maldade, a violência, as guerras, que diziam milhões de pessoas para que as pessoas paguem suas dívidas?
Seria razoável imaginar que Deus inspirou os americanos a soltar duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, para que 200 mil japoneses quitassem seus débitos?
Essas mortes são de inspiração humana, jamais divina.
O verdadeiro consolo está em considerar que o Espírito, a individualidade pensante, não morrerá jamais.
Nascer e morrer são apenas duas faces da mesma moeda: a vida imortal, que se estende ao infinito, no desdobrar de experiências que nos conduzem à perfeição. Então, como diz Jesus, não mais experimentaremos a experiência da morte, em planos de matéria densa como a Terra. Nessa concepção está o verdadeiro consolo.
Quanto aos nossos amados, que nos antecedem no retorno à Espiritualidade, estão ausentes apenas aos nossos olhos.
Se pudéssemos ver saberíamos que eles nos procuram, sofrem com nossa angústia, perturbam-se com nosso desconsolo, fortalecem-se com nossa coragem, vibram com nossas esperanças, torcem para que sejamos firmes e fortes no enfrentar os embates da existência a fim de que o reencontro mais tarde se dê em bases de vitória sobre as provações humanas, ensejando-nos luminoso porvir.